Pare. Pense. Ouça. Ouviu? Agora fale.

"Não existem milagres nesse mundo. Só existem fatalidades, coincidências e o que você faz."

Era um bar ordinário, não uma espelunca, contudo não era o que se podia chamar de limpo, era comum, em geral, freqüentado por pessoas comuns, hoje havia três indivíduos interessantes: o doente, o cidadão de bem e o maconheiro, cada qual na sua droga.

O doente entre um remédio e outro observava tais indivíduos, como poderiam ser tão calmos, mesmo com aquelas drogas eram tão saudáveis e ele não, era drogado desde que se lembrava por gente, remédios, remédios, se intoxicava desde cedo, remédio pra cabeça, pro estômago, pra tosse, pra dormir, pra viver, pode-se dizer que viver doía, era um viciado, mas era apenas mais um dentre tantos que amam os tóxicos com bulas, seu corpo pedia e só se acalmava quando aquela química adentrava em seu organismo e o controlava, ele podia sentir cada etapa, era bom, prazeroso, ele amava a dor, pois quando ela parava, era vida e então ele amava os remédios. Não entendia como jovens saudáveis desperdiçavam a vida, traziam doenças usando aquelas drogas, não entendia.

O cidadão de bem não notou o doente, estava ocupado demais com o maconheiro, estava colérico, aquele jovem da idade de seu filho, um vadio, usando aquela droga maldita, entre uma golada e outra de cerveja analisava aquele cretino, além de se drogar tinha a indecência de fazer em um local público, MALDITO. Talvez o fosse por falta de apanhar, não imaginaria como reagiria se visse seu filho em tal situação, provavelmente o bateria até ele entender o porquê não deve usar aquilo, aquele menino não deveria nem ter família, deveria ser um vagabundo, sem teto, sem lar, sem caráter, sem nada, provavelmente era um... um... ateu, um merda sem Deus no coração, capaz de tudo, seus filhos jamais se tornariam aquilo, pois assim como ele eram tementes a Deus e trabalhadores. Desejou que a polícia estivesse ali e enchesse de cacete aquele maconheiro desgraçado, estava tão absorvido pelo rapaz que não percebia o quanto estava bebendo.

O maconheiro não reparou em nenhum dos dois indivíduos, na verdade não reparou em ninguém, estava absorto em sua própria realidade, não havia mais ninguém além dele, o tempo e espaço estavam deturpados, ás vezes sentia todos o vigiando, dava temores, mas ele ignorava e então passava e então continuava no seu mundo, só seu, pouco importava quem estava fora deste, pois estes também deveriam ter o seu próprio mundo e assim sendo deveriam cuidar dele, não entendeu direito este pensamento, eram tantos pensamentos.

Estava tarde, o doente fora embora por medo de pegar resfriado, chegou em casa e como sempre se medicou, mas dessa vez, por precaução tomou mais que o recomendado.O cidadão de bem pegou o seu carro do ano e fora em encontro a esposa, que por ele esperava. Contudo, o doente desconsiderou o coração e este não perdoara tal desconsideração, não agüentou as altas dosagens de remédio, então parara, o cidadão de bem desconsiderou os seus reflexos e estando estes abalado não conseguira desviar das duas irmãs que atravessavam a rua, as atropelou, as matou, em seguida batera no poste e morrera. E o maconheiro continuava lá, mas mesmo na sua inércia, todos os doentes e cidadãos de bem que por ali passavam se incomodavam com a presença do rapaz, refletiam sobre sua possível vida estúpida e provável falha de caráter, não sabiam da história dos outros homens comuns que por ali sentaram e na verdade não se importavam, pois isso seria olhar para própria miséria e considerar os seus vícios.

Até que então este maconheiro levantara, pagara a conta sem olhar ao redor, fora pra casa e dormira.

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