Pare. Pense. Ouça. Ouviu? Agora fale.

"Não existem milagres nesse mundo. Só existem fatalidades, coincidências e o que você faz."

Postarei um conto, o primeiro que escrevi - não que eu tenha muitos - por ser um pouco extenso o dividirei em duas partes

O mundo mudara muito nos últimos anos, não é mais permitido ficar na rua depois das 23 horas, pois há toque de recolher, o dinheiro foi extinto agora é tudo no cartão magnético, há forte armamento devido aos terroristas, o que é estranho já que mesmo sem ataques o armamento cresce muito. O governo é implacável, qualquer um visto como terrorista é detido e mantido em cadeia, embora muitos aleguem que aquilo seja uma farsa, que é apenas um modo de manter o medo nas pessoas. Acusam o sistema atual de ditatorial, eu não sei muito a respeito, não me cabe questionar, não tenho tempo para isso, vivo bem e com conforto e é o que importa ao menos era o que importava.

Eram 6 horas da manhã, acordei metodicamente igual aos outros dias, mal sabia eu que aquele seria o último dia da minha vida e estranhamente também o primeiro. Sai em direção ao meu trabalho – sou operador de máquinas – quando vi uma movimentação estranha, há muito não vista. Eram jovens e numerosos, era um protesto, havia gritos e cartazes “Liberdade sempre” , “ Viva a revolução” , “Medo não” e coisas do gênero, achei curioso como pessoas com um futuro promissor colocariam tudo a perder por nada. Como estava adiantado alguns minutos parei para observar. Parecia uma grande festa, músicas, gritos e a juventude, mas não era e isso ficou claro quando apareceu a polícia e ela pediu que se retirassem, que fossem para as suas casas, mas os jovens não o fizeram, queriam a mídia, tinham uma mensagem a ser dada, mas isso era impossível, todos sabiam que a mídia era do governo e este não cederia. Ia caminhando acreditando que toda a algazarra acabaria ali, mas não. Um jovem que parecia ser o líder bradou o seguinte “Sairemos daqui só ao falarmos com a mídia ou sairemos daqui mortos”, não me lembro bem da aparência desse jovem, mas me lembro de seus olhos, eram pretos, profundos, decididos e vivos. O policial chefe ensaiou um sorriso ao canto esquerdo da boca, ele gostara do que ouvira e disse o seguinte “ Vocês estão criando o caos, faremos de tudo para manter a ordem, esta é a última chance, saiam ou terão o que merecem”, esperava que todos recuassem, mas ninguém o fez e foi justamente o contrário, todos foram em frente na direção aos policiais e gritavam cada vez mais forte “Liberdade, liberdade”, havia uma multidão em volta, todos observavam absortos. Eu estava atrasado, em 20 anos de trabalho jamais me atrasei, mas não conseguia me mover, tinha que ver o desfecho daquela história. Seguia o jovem do olhar penetrante até que houve um tiro e era justamente naquele jovem e em uma fração de segundo passara horas, eu estava paralisado, aqueles olhos me fitavam, me consumiam e a multidão corria e gritava, mas eu não conseguia me mover, era uma situação aterrorizante, mas aquele olhar me controlava, eu estava em pânico, queria correr e queria gritar, queria salvar o jovem, queria ir para o mais longe possível, mas eu não conseguia fazer nada além de observar aquela cena mortificante.

Aquele olhar mudou minha vida, mesmo que brevemente ele mudou. Era o olhar de alguém que iria morrer, mas não de alguém que temia a morte, era um olhar de uma bravo, de um guerreiro, de alguém que sabia sua sina e estava tranqüilo com ela, o garoto estava em paz consigo, eu nunca havia entendido a expressão morrer com dignidade, para mim morte era morte e não havia como morrer com dignidade, simplesmente morria, mas ao observar aqueles olhos eu entendi, aquela era uma morte com dignidade, ele não olhava aterrorizado, nem mesmo pedia ajuda, não pareceu orar ou nada parecido, ele sabia quem era e o que estava acontecendo ,estava plenamente são, emanava vida e não morte, seus olhos brilhavam parecia emitir luz,era como se visse dentro de mim, a minha alma, meus temores, visse tudo, era espantoso e mágico, fora uma fração de segundos, mas pareceu horas e fora brutal e não me refiro a morte do garoto ao sangue que jorrava em seu peito e nem da multidão que o pisava, não. O brutal foi a morte daquele olhar, que segundos antes era vida e da mais sincera, da mais real, mas agora não era mais que nada, era gélido, apagado era MORTO. E aquilo era deveras injusto, revoltante era brutal.

2 Perspectivas:

Uau... adorei seu conto.... valeu.... Te espero no Change Feelings

Obrigada =)

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Idealista,vegetariana restrita, atéia, futura psicóloga - eu espero - e acima de tudo; um espírito livre.

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